A língua portuguesa é repleta de regras e particularidades que desafiam até mesmo os estudantes mais dedicados. Uma dessas complexidades é a concordância verbal, um aspecto fundamental para a elaboração de textos coesos e corretos. Quando falamos em concordância verbal com sujeito simples, muitas vezes pensamos na regra que determina que o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa. Contudo, há casos especiais nesse contexto que podem gerar dúvidas e erros comuns.
Neste artigo, abordarei de forma detalhada e clara os principais casos especiais de concordância verbal com sujeito simples. Meu objetivo é proporcionar uma compreensão sólida dessas particularidades, auxiliando tanto estudantes quanto professores na hora de escrever e revisar textos em português. Analisaremos exemplos, regras específicas, exceções e dicas práticas para aplicar corretamente a concordância verbal em diversas situações.
Prepare-se para aprofundar seu entendimento sobre um aspecto essencial da nossa língua, com uma abordagem didática e acessível.
Concordância verbal com sujeito simples: conceitos básicos
Antes de explorar os casos especiais, é importante reforçar os conceitos fundamentais de concordância verbal com sujeito simples.
O que é sujeito simples?
O sujeito simples é aquele que possui apenas um núcleo, ou seja, uma palavra principal que determina a concordância do verbo. Exemplo:
O menino estudou para a prova.
Sujeito: O menino (núcleo: menino) — verbo: estudou (forma verbal no passado, concordando com o sujeito singular).
Regras gerais de concordância
- Se o sujeito é singular, o verbo deve estar na terceira pessoa do singular: A criança brinca.
- Se o sujeito é plural, o verbo deve estar na terceira pessoa do plural: Os estudantes viajam.
Entretanto, essas regras apresentam variações e exceções que merecem atenção especial. É nesse ponto que os casos especiais entram em cena.
Casos especiais de concordância verbal com sujeito simples
Apesar de parecerem simples, alguns casos requerem atenção para evitar erros na concordância. A seguir, apresento os principais casos especiais, suas regras, exemplos e explicações detalhadas.
1. Sujeito mediante expressão de quantidade ou quantidade indeterminada
Quando o sujeito é uma expressão de quantidade, a concordância pode variar dependendo da ideia que quer-se transmitir.
a) Expressões de quantidade com singularidade
Quando a expressão indica uma totalidade, um conjunto ou uma quantidade unitária, o verbo costuma concordar no singular.
Exemplos:
A maioria dos alunos faz a lição de casa. (a ideia de um conjunto total)
Uma parte do documento foi perdido. (uma fração de um todo)
Explicação: apesar de "alunos" e "documento" estarem no plural, as expressões de quantidade (maioria, parte) fazem com que o verbo seja no singular, pois representam um conjunto ou uma unidade.
b) Expressões de quantidade com pluralidade
Quando a ideia é de pluralidade ou de várias unidades, o verbo concorda no plural.
Exemplos:
Vários alunos chegaram cedo.
Algumas das provas foram entregues atrasadas.
Dicas práticas:- Use o singular quando a expressão indica uma totalidade ou uma fração única.- Use o plural quando indicar diversidade ou várias unidades.
2. Sujeito com números e expressões de quantidade
Algumas expressões numéricas ou quantitativas, mesmo no singular, podem influenciar na concordância verbal.
| Expressão | Concordância Verbal | Exemplo |
|---|---|---|
| Mais de um, uma parte de | O verbo pode ficar no singular ou no plural, dependendo da intenção do falante e do contexto. | Mais de um aluno chegou cedo. / Mais de um aluno chegaram cedo. |
| Cerca de | Geralmente concorda no singular, indicando uma quantidade aproximada. | Cerca de duas horas passaram-se rapidamente. |
| A maioria de, a maior parte de | Concorda com o núcleo do sujeito (singular ou plural), dependendo da expressão seguinte. | A maioria dos professores concorda. Ou A maioria dos professores concordam. |
Importante: É comum encontrar variantes na concordância com essas expressões, dependendo do estilo do autor ou do grau de formalidade.
3. Sujeito com palavras compostas por elementos ligados por "ou" ou "ou...ou"
O uso da conjunção "ou" pode influenciar na concordância.
- Quando os elementos do sujeito estão ligados por ou, e ambos estão no singular, a concordância geralmente é no singular:
Exemplo:
O pai ou a mãe deve estar presente. (em dúvida, escolhe-se o singular)
- Caso um dos elementos esteja no plural, a concordância acompanha o elemento que estiver no plural, se a ideia for de pluralidade, ou permanece no singular se for uma proposta de escolha.
Dica: Para evitar ambiguidades, às vezes é preferível reestruturar a frase.
4. Sujeito com número "um" ou "uma" antes do núcleo
Quando há um número "um" ou "uma" antes do núcleo do sujeito, a concordância deve ser unicamente com o núcleo.
Exemplo:
Uma das meninas foi indicada. (O verbo concorda com "uma", no singular.)
Um dos professores foi chamado. (O verbo concorda com "um", no singular.)
5. Sujeito com elementos coletivos
Sujeitos que indicam conjuntos, grupos ou comunidades podem exigir concordância singular ou plural, dependendo do sentido.
| Situação | Concordância | Exemplo |
|---|---|---|
| Enfatizar a totalidade do grupo | Singular | A equipe está unida. |
| Enfatizar a ação dos membros individualmente | Plural | A equipe estão discutindo suas opiniões. |
Recomendação: Analise o contexto e o sentido pretendido para decidir qual concordância usar.
6. Vérbais em frases com sujeitos inexistentes ou impessoais
Sujeitos impessoais ou frases que não têm sujeito explícito influenciam na forma verbal.
- Frases com "há", "faz", "é", etc., geralmente usam verbo na 3ª pessoa do singular:
Exemplo: Há muitas pessoas na sala.
Faz anos que não vejo você.
É necessário estudar.
- Quando a frase expressa uma ideia de tempo, quantidade ou fenômeno da natureza, o verbo é no singular.
Obs.: Atenção ao contexto para identificar se a frase é realmente impessoal.
Dicas práticas para aplicar a concordância verbal corretamente
- Antes de decidir a forma verbal, identifique claramente o núcleo do sujeito.
- Verifique se o sujeito é expresso ou subentendido.
- Analise se o sujeito é um conjunto, uma expressão de quantidade ou uma expressão composta por elementos ligados por "ou".
- Considere o sentido da frase: se refere à totalidade ou à ação individual dos integrantes do grupo.
- Use a teoria como guia, mas adapte às particularidades de cada contexto.
Conclusão
A concordância verbal é uma das áreas mais desafiadoras da língua portuguesa, especialmente quando lidamos com casos especiais com sujeito simples. Como vimos, situações envolvendo expressões de quantidade, números, sujeitos ligados por "ou", elementos coletivos, e frases impessoais exigem atenção cuidadosa para garantir a correção gramatical.
Ao compreender esses casos específicos e aplicar as dicas apresentadas, torna-se mais fácil evitar erros comuns e desenvolver uma escrita mais clara, correta e elegante. A prática constante, leitura e revisão são essenciais para consolidar esse conhecimento e aprimorar a habilidade de usar a concordância verbal de forma adequada.
Lembre-se: compreender as nuances da nossa língua possibilita uma comunicação mais eficaz e demonstra domínio da norma culta do português.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quando devo usar o verbo no singular ou no plural em expressões de quantidade como "a maioria" ou "uma parte"?
Quando a expressão indica uma totalidade ou uma fração que funciona como uma unidade, o verbo costuma estar no singular. Por exemplo, A maioria dos alunos está participando (aqui, a ideia é de um grupo representando uma totalidade). Se a ideia for de várias ações de diferentes membros, o verbo pode ficar no plural, como em Vários alunos estão participando. A escolha depende do sentido pretendido.
2. O que fazer quando o sujeito ligado por "ou" possui elementos no singular e no plural?
Nesses casos, a concordância geralmente segue o elemento que estiver no plural, se a intenção for de pluralidade. Por exemplo, O pai ou a mãe devem estar presentes. Se a intenção for indicar uma escolha única, usa-se o singular: O pai ou a mãe deve estar presente. A clareza do contexto é fundamental.
3. Como proceder com sujeitos que indicam grupos, como "a equipe" ou "os estudantes"?
- Se o sentido for de totalidade ou união, a concordância deve ser no singular: A equipe está unida.
- Se o foco for na ação individual de cada membro, é aceitável o plural: Os estudantes estão discutindo seus problemas.
- É importante avaliar o significado na frase para escolher a concordância adequada.
4. Como identificar se uma frase com "há" ou "faz" é impessoal?
Frases com "há" ou "faz" geralmente indicam ações ou fenômenos da natureza ou tempo e usam o verbo na 3ª pessoa do singular: Há muitas pessoas na fila. Faz muitos anos desde a última visita. Se a estrutura for diferente ou se o sujeito for explícito, a concordância pode variar.
5. Sujeitos compostos ligados por "ou" e o uso do plural ou singular?
Quando os elementos ligados por "ou" são iguais e se refere a uma escolha, o verbo fica no singular: Ou o aluno ou o professor está presente. Se a intenção for indicar pluralidade, e os elementos estiverem no plural, use o plural: Ou os alunos ou os professores estão responsáveis. A cuidada análise do sentido é essencial.
6. Existe alguma regra sobre o uso de "uma das" seguida de verbo no singular ou plural?
Sim, o verbo deve concordar com o núcleo de "uma" ou "uma das". Exemplo: Uma das meninas foi indicada. Então, o verbo fica no singular, concordando com "uma", independentemente do restante do sujeito.
Referências
- Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Editora Positivo, 2009.
- Celso Pedro Luft. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Edusp, 2013.
- Sociedade Brasileira de Língua Portuguesa. Normas de Concordância Verbal. Disponível em: https://sbmlp.org.
- Maria Helena de Moura Neves. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. Atualizada, Ed. Ática, 2008.
- Normas da Língua Portuguesa – Academia Brasileira de Letras. Gramática Normativa. 2010.