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Doenças Emergentes e Reemergentes: Desafios para a Saúde Global

Ao longo da história, a humanidade tem enfrentado diversos desafios relacionados à saúde pública, entre eles as doenças infecciosas. No entanto, nas últimas décadas, observamos uma crescente preocupação com as doenças emergentes e reemergentes, que representam ameaças significativas à saúde global. Essas doenças não apenas colocam em risco populações vulneráveis, mas também desafiam os sistemas de saúde, a pesquisa médica e as políticas públicas ao redor do mundo.

As doenças emergentes referem-se àqueles novos agentes infecciosos que surgem para a primeira vez em uma população ou que anteriormente eram desconhecidos. Já as doenças reemergentes arredondam o cenário ao voltarem a um estado de maior incidência, frequentemente devido à resistência aos tratamentos, mudanças ambientais ou fatores socioculturais. Este artigo busca explorar esses conceitos, entendendo suas causas, exemplos, impacto na sociedade e os desafios que eles representam para a saúde global.

Conceitos de Doenças Emergentes e Reemergentes

Doenças Emergentes

Uma doença é considerada emergente quando surge à atenção pública e científica por causa de sua novdade ou aumento expressivo de casos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma doença emergente pode ser causada por um novo patógeno ou por uma nova manifestação de um agente conhecido. Por exemplo, o vírus que causou a Covid-19, o SARS-CoV-2, emergiu em 2019 e rapidamente se espalhou globalmente, exemplificando uma doença emergente.

Doenças Reemergentes

As doenças reemergentes são aquelas que, após uma redução ou controle, voltam a apresentar aumento no número de casos. Vários fatores podem contribuir para esse retorno, como resistência a medicamentos, mudança em padrões de comportamento ou resistência do vetor. Um exemplo clássico é a tuberculose, que após décadas de controle, voltou a aumentar em algumas regiões, principalmente devido à resistência aos antibióticos.

Tabela 1: Diferenças entre doenças emergentes e reemergentes

AspectoDoenças EmergentesDoenças Reemergentes
DefiniçãoNovas ou que aparecem pela primeira vezDoenças que retornam após decréscimo
CausasNovas mutações, zoonoses, mudanças ambientaisResistência, falhas na vigilância, fatores socioculturais
ExemploCOVID-19, HIV/AIDS (no início)Tuberculose, difteria

Causas das Doenças Emergentes e Reemergentes

Mudanças Ambientais e Desmatamento

O impacto humano no meio ambiente, como o desmatamento, resulta na perda de habitats naturais de animais selvagens, o que aumenta o contato entre humanos e animais portadores de agentes patogênicos. Essa interação pode facilitar o surgimento de zoonoses, como o Ebola e o vírus Nipah.

Globalização e Mobilidade

O aumento do transporte internacional e o fluxo de pessoas facilitam a rápida disseminação de agentes infecciosos. Segundo a OMS, casos de doenças que antes eram restritos a regiões específicas agora podem se tornar pandemias em questão de semanas.

Resistência a Medicamentos

O uso indevido e o abuso de antibióticos contribuem para o desenvolvimento de cepas resistentes, dificultando o combate a doenças tradicionais, como a tuberculose e a sífilis. Essa resistência reativa a tratamentos cria desafios na erradicação de doenças reemergentes.

Mudanças Demográficas

O envelhecimento populacional e o crescimento urbano acelerado influenciam na vulnerabilidade às doenças infecciosas. Cidades densamente povoadas com saneamento precário facilitam a propagação de doenças.

Fatores Socioculturais

Práticas culturais, resistência à vacinação e inadequadas condições de saneamento básico também desempenham papel na reemergência de doenças.

Exemplos de Doenças Emergentes

COVID-19 (SARS-CoV-2)

Em dezembro de 2019, surgiram os primeiros casos de uma pneumonia atípica na cidade de Wuhan, China. Em pouco tempo, o vírus se espalhou globalmente, levando a uma pandemia. A Covid-19 evidenciou a vulnerabilidade dos sistemas de saúde e a importância de respostas rápidas. Segundo a OMS, até 2023, mais de 700 milhões de casos e aproximadamente 6,8 milhões de mortes haviam sido registradas globalmente.

Vírus Zika

Identificado inicialmente na Uganda, o vírus Zika ganhou atenção mundial após associações com microcefalia em recém-nascidos, especialmente na América Latina, em 2015-2016. Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mostrou como mudanças ambientais podem reativar ameaças já conhecidas.

Febre Ebola

O vírus Ebola causou surtos na África Ocidental, com alta taxa de mortalidade. Estudos indicam que a ruptura de limites ecológicos e o comércio ilegal de animais silvestres contribuíram para seu surgimento.

Doença de Nipah

Transmitida por morcegos, essa doença emergiu na Malásia na década de 1990 e continua sendo uma ameaça, com potencial para surtos em áreas de risco, devido à perda de habitats naturais e ao contato humano com animais infectados.

Exemplos de Doenças Reemergentes

Tuberculose

Uma das doenças mais antigas e mortais, a tuberculose ressurgiu devido à resistência aos antibióticos e ao aumento de pessoas imunossuprimidas, especialmente pelo HIV/AIDS. Ainda hoje, é uma preocupação de saúde pública mundial, com cerca de 10 milhões de casos anuais, de acordo com a OMS.

Difteria

Após ser controlada com a vacinação, a difteria reemergiu em algumas regiões devido à diminuição da cobertura vacinal, indicando falhas nas campanhas de imunização.

Gripe Influenza

Embora exista uma vacina eficaz, variantes do vírus influenza continuam a provocar surtos anuais, com novas cepas surgindo devido a mutações genéticas, desafiando a imunidade da população.

Caxumba

A incidência de caxumba voltou a aumentar em algumas regiões onde a cobertura vacinal caiu, demonstrando a necessidade de manutenção de campanhas de imunização contínuas.

Fatores que contribuem para a reemergência dessas doenças incluem:

  • Declínio na cobertura vacinal
  • Resistência a medicamentos
  • Mudanças nas condições socioeconômicas
  • Resistência do vetor (no caso de doenças transmitidas por mosquitos)

Impacto na Saúde e na Sociedade

Desafios para os Sistemas de Saúde

O aumento de doenças emergentes e reemergentes sobrecarrega hospitais, sistemas de vigilância e estratégias de prevenção. A necessidade de atualização constante de protocolos e investimentos em saúde pública é fundamental.

Consequências Econômicas

Pandemias e surtos podem gerar custos elevados para a economia, afastando trabalhadores, reduzindo a produtividade e aumentando os gastos governamentais com tratamento e controle.

Impacto Psicossocial

O medo e a incerteza gerados por esses episódios afetam o bem-estar psicológico das populações, além de aumentar estigmas associados à doença.

Resposta Global

Organizações internacionais, como a OMS e o CDC, desempenham papéis essenciais na coordenação de esforços para monitorar, prevenir e controlar essas doenças, mas o sucesso depende da colaboração de todos os países e setores.

Desafios para o Controle e a Prevenção

Vigilância Epidemiológica

Implementar sistemas eficazes de monitoramento que possam detectar cedo novos surtos e padrões de reemergência é crucial para uma resposta efetiva.

Desenvolvimento de Vacinas e Tratamentos

Investir em pesquisa para criar vacinas universais, com maior cobertura, e tratamentos eficazes que possam ser acessíveis globalmente.

Educação e Conscientização

Campanhas educativas que promovam práticas de higiene, vacinação e cuidados preventivos são essenciais para reduzir riscos.

Políticas Públicas

Necessidade de políticas integradas que abordem fatores socioeconômicos, ambientais e de saúde, com atenção especial às populações vulneráveis.

Segundo pesquisadores, ‘a prevenção é sempre mais eficaz e econômica do que o combate a surtos’ (WHO, 2020).

Conclusão

As doenças emergentes e reemergentes representam um desafio complexo e constante para a saúde global. A rapidez com que novas ameaças aparecem e a facilidade de reativação de antigas impõem a necessidade de vigilância contínua, investimentos em pesquisa e estratégias integradas de controle. A compreensão dos fatores ambientais, sociais e biológicos que contribuem para esse cenário é fundamental na formulação de políticas eficazes.

Para enfrentar esse desafio, é imprescindível que a sociedade esteja preparada, promove a educação em saúde, mantenha a vacinação em dia e apoie ações de saneamento básico e preservação ambiental. Somente por meio de cooperação internacional e comprometimento de todos os setores podemos minimizar o impacto dessas doenças e garantir um futuro mais saudável para todos.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. O que são doenças emergentes?

Doenças emergentes são aquelas que aparecem pela primeira vez em uma população ou que previamente eram pouco conhecidas, muitas vezes tendo um impacto significativo na saúde pública, como o vírus SARS-CoV-2 (causador da Covid-19). Elas podem surgir devido a mutações genéticas, zoonoses ou mudanças ambientais que facilitam sua transmissão oudetecção.

2. Quais fatores contribuem para o surgimento de doenças reemergentes?

Os principais fatores incluem resistência a medicamentos devido ao uso indevido, declínio na cobertura vacinal, mudanças ambientais, aumento da resistência do vetor, fatores socioeconômicos e falhas na vigilância epidemiológica. A combinação desses fatores favorece o retorno de doenças que estavam sob controle.

3. Como as mudanças ambientais influenciam a emergência de doenças?

A destruição de habitats naturais, o desmatamento e a urbanização acelerada podem aumentar o contato entre humanos e animais infectados, facilitando a transmissão de zoonoses. Além disso, alterações climáticas podem expandir a área de distribuição de vetores como mosquitos, aumentando o risco de doenças como a dengue e o Zika.

4. Quais são os principais desafios no combate às doenças emergentes?

Os desafios incluem a rápida detecção de novos agentes, o desenvolvimento de vacinas eficazes, resistências a tratamentos, a coordenação internacional, infraestrutura de saúde limitada e a necessidade de combater fatores sociais e ambientais que contribuem para sua propagação.

5. Como podemos ajudar na prevenção dessas doenças?

Ações individuais como manter a vacinação em dia, higiene pessoal adequada, evitar o contato com animais potencialmente infectados e buscar informações confiáveis são essenciais. Além disso, o apoio às políticas públicas de saneamento, vacinação e educação desempenha papel importante na prevenção.

6. Qual o papel da Organização Mundial da Saúde (OMS)?

A OMS coordena ações globais, realiza monitoramento epidemiológico, fornece orientações técnicas, apoia países na implementação de medidas de controle e trabalha na formulação de políticas para minimizar o impacto das doenças emergentes e reemergentes.

Referências

  • Organização Mundial da Saúde (OMS). “Emerging Diseases.” Disponível em: https://www.who.int/topics/emerging_diseases/en/
  • World Health Organization. (2020). “Global Tuberculosis Report 2020.”
  • Morens, D.M., & Fauci, A.S. (2013). Emerging Infectious Diseases: Threats to Human Health. Science.
  • Smith, K.F., et al. (2014). Zoonoses and the Human-Animal Interface. Preventive Veterinary Medicine.
  • Centers for Disease Control and Prevention (CDC). “Emerging and Reemerging Infectious Diseases.” Disponível em: https://www.cdc.gov/eid/index.html
  • Bahk, J. et al. (2019). “Impact of Environmental Changes on Disease Emergence.” Journal of Biological Sciences.
  • Ministério da Saúde do Brasil. “Situação Epidemiológica das Doenças Infecciosas.” Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br

Este artigo é uma síntese de conhecimentos atuais e busca contribuir para a compreensão do tema, promovendo a reflexão e ações de prevenção globais.

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