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Hipótese Da Escrita: Nível Silábico Sem Valor Sonoro Na Educação

A aquisição da leitura e da escrita é um processo complexo que envolve múltiplas habilidades cognitivas, linguísticas e motoras. Desde os primeiros anos de escolaridade, estudantes começam a desenvolver competências que lhes permitirão decifrar textos, compreender significados e expressar ideias de forma clara e eficiente. Nesse contexto, diversas hipóteses e teorias contribuíram para a compreensão do desenvolvimento dessas habilidades, entre elas, a Hipótese da Escrita: Nível Silábico Sem Valor Sonoro.

Este conceito propõe uma etapa específica na trajetória de aquisição da escrita, na qual o aluno reconhece e reproduz as unidades silábicas, porém sem atribuir valor fonológico a esses elementos. Em outras palavras, a criança escreve as sílabas sem compreender ou correlacionar seus sons, focando apenas na forma visual. Este artigo tem como objetivo explorar detalhadamente essa hipótese, destacando suas implicações pedagógicas, suas diferenças em relação a outras fases do desenvolvimento leitor-escritor e as estratégias que podemos adotar no ensino para apoiar os estudantes nessa etapa.

O Desenvolvimento da Escrita e as Fases de Aprendizagem

As etapas do processo de apropriação da escrita

O processo de aprender a escrever passa por várias fases, cada uma marcada por características específicas. Conforme Smith (2004), essas etapas incluem:

  1. Etapa pré-silábica – onde a criança tenta escrever palavras sem compreender a correspondência entre sons e letras.
  2. Etapa silábica – momento em que a criança escreve sílabas ou sequências de letras que representam a palavra, muitas vezes sem valor sonoro.
  3. Etapa alfabética – fase na qual há entendimento da relação entre fonemas e grafemas, possibilitando uma escrita mais fonêmica.
  4. Etapa ortográfica – última fase, na qual o estudante domina o sistema de escrita, considerando regras ortográficas e morfológicas.

Cada fase representa uma progressão na compreensão do código alfabético, sendo fundamental para o desenvolvimento de competências que levam à leitura fluente e à escrita autorregulada.

A importância de compreender as fases de aprendizagem

Entender essas etapas é crucial para que professores possam planejar intervenções pedagógicas apropriadas e oferecer suporte adequado aos alunos em diferentes momentos de sua formação. A hipótese da escrita silábica sem valor sonoro encaixa-se na fase silábica, sendo uma etapa intermediária que demanda estímulos específicos para sua evolução.

Hipótese da Escrita: Nível Silábico Sem Valor Sonoro

Definição e caracterização

A hipótese da escrita silábica sem valor sonoro refere-se a uma fase do desenvolvimento da escrita na qual a criança reproduce as sílabas de uma palavra de forma visual, mas sem compreender a relação entre esses signos e os sons correspondentes. Nesse estágio, a produção do texto costuma apresentar as seguintes características:

  • Reconhecimento da silaba como unidade de escrita.
  • Ausência de correspondência fonema-grafema.
  • Escrita baseada na memória visual ou na representação gráfica da silaba.
  • Falta de consciência fonológica.

Por exemplo, ao escrever a palavra “casa”, a criança pode escrever “ca” ou “c”, sem associar os sons /k/ ou /s/ às letras correspondentes.

Implicações pedagógicas

Esse nível de escrita indica que o estudante ainda não compreende a importância do valor sonoro na elaboração do sistema de escrita. Para os professores, é essencial reconhecer esse estágio para evitar cobranças por uma escrita “correta” que requeira entendimento fonológico, além de oferecer estratégias para avançar nessa fase.

Diferença entre a escrita silábica sem valor sonoro e outras fases

CritérioEscrita Silábica Sem Valor SonoroEscrita Silábica com Valor SonoroEscrita AlfabéticaEscrita Ortográfica
Reconhecimento de unidadeSílabaSílabaFonemaPalavra completa
Relação fonema-grafemaIncipiente ou inexistenteParcial ou emergenteConscienteConsciente
Foco da escritaForma visual da silabaSons e letrasSons e letrasRegras ortográficas

Como identificar esse estágio

Segundo Ferreiro (1999), observando as produções escritas das crianças, podemos perceber:

  • Uso frequente de silabas isoladas ou conjuntos de letras visuais que não estabelecem relação fonológica.
  • Dificuldade para segmentar foneticamente as palavras.
  • Escrita muitas vezes estilizada, semelhante à escrita convencional, porém sem sentido do ponto de vista fonológico.

Exemplos de produções nesse nível

  • Escrever “sol” como “s” ou “so”.
  • Escrever “árvore” como “a” ou “ar”.
  • Confusão na produção de palavras com variação significativa nas formas gráficas, mas sem a compreensão do código.

Como o Professor Pode Trabalhar com Estudantes nesse Nível

Impulsionar a consciência fonológica e suas estratégias

Para avançar na fase silábica sem valor sonoro, é importante desenvolver atividades que promovam a consciência fonológica, como:

  • Jogos de rimas e aliteração.
  • Segmentação oral de palavras.
  • Identificação de fonemas em palavras conhecidas.

Atividades práticas recomendadas

  1. Leitura compartilhada: estimular a leitura de textos curtos, focando na relação entre sons e letras.
  2. Escrita apoiada: fornecer estímulos que orientem a entrada na fase alfabética, com apoio visual e verbal.
  3. Roda de palavras: explorar conjuntos de palavras com o mesmo som inicial ou final para fortalecer a percepção fonêmica.
  4. Atividades de correspondência: ligar sons a letras específicas, promovendo reconhecimento e associação.

Importância do ambiente alfabetizador

A criação de um ambiente rico em textos, jogos de palavras e atividades que envolvam leitura e escrita é fundamental para que a criança perceba a relevância do sistema de escrita e consiga transitar naturalmente para as próximas fases.

Reflexões sobre a Transição para a Fase Alfabética

A passagem da fase silábica sem valor sonoro para a fase alfabética exige que o estudante comece a compreender e atuar sobre a relação entre sons e letras. Segundo Solé (1998), o desenvolvimento da consciência fonológica é um elemento-chave para essa transição.

Assim, o papel do educador é promover atividades que reconheçam o esforço do estudante nessa fase, oferecendo estímulos que favoreçam a compreensão do código escrito, sem pressionar pelo domínio completo. A avaliação deve ser feita de maneira formativa, valorizando cada avanço na compreensão do sistema.

Conclusão

A hipótese da escrita: Nível Silábico Sem Valor Sonoro representa uma etapa crucial no desenvolvimento da alfabetização. Compreender que as crianças passam por esse estágio ajuda os professores a planejar intervenções mais efetivas, promovendo uma aprendizagem mais natural e significativa. É importante reconhecer que a escrita silábica sem valor sonoro demonstra o esforço de aproximação do estudante com o código, mesmo que ainda falte a compreensão fonológica.

Ao oferecer atividades específicas e criar um ambiente alfabetizador estimulante, podemos facilitar a transição para as fases seguintes, levando o aluno a compreender e utilizar o sistema de escrita de forma mais consciente e autônoma.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. O que caracteriza a fase silábica sem valor sonoro na escrita infantil?

Essa fase caracteriza-se pelo reconhecimento da silaba como unidade de escrita, porém sem a compreensão do valor sonoro dos fonemas. Crianças escrevem as silabas ou sequências de letras visualmente, sem estabelecer relação fonema-grafema. Seus escritos frequentemente parecem “aleatórios” do ponto de vista fonológico, focando na forma visual.

2. Como identificar se uma criança está nessa fase de desenvolvimento?

Observando suas produções escritas, notamos que elas geralmente consistem em silabas isoladas ou sequências de letras que não correspondem aos sons das palavras. Além disso, há dificuldade de segmentar foneticamente as palavras e pouca ou nenhuma associação entre sons e letras, indicando a ausência do entendimento fonológico.

3. Quais atividades pedagógicas podem ajudar na transição dessa fase?

Atividades como jogos de rimas, atividades de segmentação fonêmica, leitura compartilhada, elaboração de palavras com sons semelhantes, e exercícios de correspondência entre sons e letras são eficazes para promover o entendimento da relação fonema-grafema e avançar para a fase alfabética.

4. Qual a importância de entender essa fase no processo de alfabetização?

Compreender que essa fase é natural e necessária para o desenvolvimento da consciência fonológica permite ao professor oferecer suporte adequado, sem cobranças indevidas, facilitando a evolução natural do estudante e evitando frustrações que possam prejudicar o interesse pela leitura e escrita.

5. Como o ambiente escolar pode contribuir para o progresso nesse estágio?

Um ambiente alfabetizador, com acesso a livros, jogos de palavras, atividades lúdicas e estímulos constantes à leitura e à escrita, favorece a compreensão do código, estimulando a prática e facilitando a transição para etapas mais avançadas.

6. Quais são os sinais de que o estudante está indo além da fase silábica sem valor sonoro para a fase alfabética?

O sinal principal é a tentativa de estabelecer uma correspondência entre sons e letras, demonstrada por produções que representam fonemas de forma mais consciente. A criança começa a usar letras de forma mais planejada, reconhecendo fonemas e formando palavras mais próximas da escrita convencional.

Referências

  • FERREIRO, Emilia. A Organização do Texto Escrita. Martins Fontes, 1999.
  • SMITH, F. H. Developmental Stages of Writing. Educational Phonology, 2004.
  • SOLÉ, Isabel. Fundamentos de Educação em Língua Portuguesa. Cortez, 1998.
  • CARVALHO, Maria Aparecida de. Alfabetização e Desenvolvimento da Escrita. Cortez, 2010.
  • BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. MEC, 1998.
  • SOARES, M. L. Letramento e Alfabetização. Papirus, 2000.

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