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Passeata dos Cem Mil: Contexto Histórico e Importância na Ditadura Militar

A história do Brasil no século XX é marcada por momentos de forte contestação política, resistência social e luta por liberdade. Entre esses momentos, destaca-se a Passeata dos Cem Mil, ocorrida em 1968, um evento emblemático na trajetória de oposição ao regime militar instaurado em 1964. Essa manifestação não apenas expressou o descontentamento de uma parcela significativa da sociedade brasileira, mas também revelou a força do movimento estudantil e de grupos civis na resistência contra a censura, a repressão e a perda de direitos políticos. Neste artigo, farei uma análise aprofundada do contexto histórico que culminou na Passeata dos Cem Mil, explorando suas causas, desenvolvimento, consequências e sua importância dentro do processo de resistência à ditadura militar no Brasil.

Contexto Histórico Antes da Passeata dos Cem Mil

O Golpe Militar de 1964

Em 31 de março de 1964, o Brasil vivenciou um golpe militar que depôs o presidente João Goulart, conhecido por suas posições de centro-esquerda e por promover reformas sociais. Este evento marcou o início de um regime autoritário que duraria mais de duas décadas, caracterizado por censura, repressão, tortura e restrição às liberdades civis.

Principais aspectos do regime militar:- Contra-reformas econômicas e sociais.- Censura à imprensa, às artes e às manifestações populares.- Perseguição a opositores políticos.- Impacto negativo no caldo cultural e na liberdade de expressão.

O Estado de Exceção e a Repressão

Após a tomada do poder, o governo militar instaurou um estado de exceção, justificando sua atuação com a alegação de combater o comunismo e assegurar a estabilidade nacional. Nesse período, diversas instituições civis e políticas foram fechadas ou controladas, incluindo partidos políticos e sindicatos.

Segundo o historiador Gustavo Uribe, "a repressão política foi uma estratégia utilizada para silenciar qualquer oposição e consolidar o autoritarismo."

O Movimento Estudantil e a Oposição à Ditadura

Desde os primeiros anos após o golpe, o movimento estudantil desempenhou um papel fundamental na resistência contra o autoritarismo. Universidades se tornaram centros de debates, mobilizações e manifestações contrárias à censura e pela retomada da democracia.

Dentre as manifestações mais marcantes dessa resistência, destacou-se a Passeata dos Cem Mil, ocorrida em 1968. Essa passeata foi uma resposta direta às tentativas de repressão, ao endurecimento do regime e ao contexto de repressão intensa no período, especialmente após o AI-5 (Ato Institucional nº 5), que deu poderes extraordinários ao governo militar.

O AI-5 e o Clima de Repressão

Assinado em 13 de dezembro de 1968, o AI-5 representou uma escalada no autoritarismo militar, autorizando, entre outras ações:- O fechamento do Congresso Nacional.- A suspensão de direitos políticos.- A censura prévia à imprensa, às artes e às manifestações públicas.- A prisão de opositores políticos.

Este ato provocou uma onda de resistência, que se refletiu na mobilização massiva dos estudantes e do povo brasileiro na Passeata dos Cem Mil.

A Passeata dos Cem Mil: Desenvolvimento e Características

Data, Local e Participantes

A Passeata dos Cem Mil aconteceu no dia 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. Estima-se que participaram cerca de 300 mil pessoas, destacando-se uma mobilização inédita até então na história do Brasil autoritário.

A manifestação foi organizada por diversos grupos estudantis, sindicais, religiosas e civis, que se uniram numa resposta coletiva contra a repressão, a censura e pela democracia.

Motivação e Demandas

As principais motivações e demandas da passeata incluíam:1. Rejeição ao regime militar autoritário e ao AI-5.2. Exigência de anulação do AI-5 e de uma abertura democrática.3. Liberdade de expressão, de reunião e de imprensa.4. Apoio às prisões de ativistas e intelectuais.5. Manutenção dos direitos civis e políticos.

Desenvolvimento da Manifestação

A mobilização começou com uma concentração na Candelária, no centro do Rio de Janeiro, e se deslocou pelas principais vias da cidade até a Cinelândia. Os participantes carregavam faixas, bandeiras, cruzes e símbolos religiosos, reforçando a popularidade da resistência social, incluindo a forte presença de jovens e estudantes.

Durante o percurso, foram entoados hinos nacionais, cânticos de protesto e palavras de ordem contra o regime. A manifestação foi marcada por uma expressiva solidariedade da sociedade civil, com apoio de setores religiosos, intelectuais, artistas e ex-alunos de universidades.

Reações do Governo e do Regime Militar

A resposta do governo foi de repressão violenta, com policiais usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros e prisões. Apesar disso, a passeata demonstrou que a oposição estava forte e determinada, o que assustou o regime militar e provou que a censura e repressão não eram suficientes para silenciar o movimento.

O próprio regime descreveu a manifestação como uma tentativa comunista de destabilizar o país, mas a grande adesão popular refutou essa narrativa oficial. A mídia controlada pelos militares também tentou minimizar o evento, mas sua repercussão provocou forte impacto social.

Importância da Passeata na História Brasileira

A Passeata dos Cem Mil foi um marco na resistência contra o regime militar. Foi uma demonstração de coragem de um povo que se recusava a aceitar a repressão e buscava, mesmo sob ameaça, retomar seus direitos civis e políticos.

Ao divulgar ideias de liberdade, igualdade e democracia, a passeata contribuiu para:- Fortalecer o movimento contra a repressão.- Inspirar outras manifestações e movimentos sociais no Brasil.- Sensibilizar a comunidade internacional sobre a situação política do país.- Criar um clima de oposição que persistiria durante toda a ditadura.

Consequências e Impactos Posteriores

Repercussões imediatas

Apesar da repressão violenta, a Passeata dos Cem Mil consolidou a resistência civil no Brasil, demonstrando que havia uma força social capaz de desafiar o autoritarismo. Além disso, fortalecia o movimento estudantil e de oposição, criando espaços de maior mobilização social.

Influência na política e sociedade

A manifestação ajudou a abrir caminhos para uma maior pressão por mudanças democráticas e influenciou a elaboração de novas estratégias de resistência. Antonino Andrade, líder estudantil, afirmou que "a passeata foi a voz de um povo que não se calou diante da opressão," reforçando a importância do movimento.

Legado histórico

A Passeata é lembrada até hoje como um símbolo de coragem, resistência e esperança na luta por democracia no Brasil. Ela também reforça o papel das manifestações populares na resistência aos regimes autoritários e na construção da história social do país.

Conclusão

A Passeata dos Cem Mil representa um momento crítico na história da resistência brasileira contra a ditadura militar. Ela evidencia a força do movimento civil, especialmente dos estudantes, em lutar por direitos civis, liberdade de expressão e democracia, mesmo sob um regime autoritário e repressivo.

Essa manifestação não só colocou em evidência o descontentamento popular, mas também inspirou futuras ações de resistência e mobilização social. Sua importância transcende o episódio em si, tornando-se um símbolo de resistência e esperança na luta por liberdade e democracia no Brasil.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. O que motivou a realização da Passeata dos Cem Mil?

A passeata foi motivada pelo aumento da repressão política, especialmente após a assinatura do AI-5, que instituiu um regime de exceção e cerceou as liberdades civis. Os estudantes e diversos setores da sociedade quiseram mostrar sua oposição ao autoritarismo e lutar por liberdade, direitos civis e democracia.

2. Qual foi o papel do movimento estudantil na Passeata?

O movimento estudantil foi fundamental na organização e na condução da passeata. Os estudantes lideraram a mobilização, utilizando as universidades como centros de resistência e propagação de ideias democráticas, além de organizar a manifestação na rua com faixas, cartazes e cânticos de protesto.

3. Quais foram as consequências imediatas da manifestação?

Apesar da repressão violenta, a passeata fortaleceu a resistência civil, incentivou novas mobilizações e aumentou a pressão contra o regime militar. Ela também despertou atenção internacional para a repressão, contribuindo para a pressão por mudanças democráticas.

4. Como o regime militar reagiu à Passeata dos Cem Mil?

O governo respondeu com repressão, usando bombas de gás lacrimogêneo, prisões e repressão policial. Apesar disso, não conseguiu silenciar o movimento, e a manifestação se tornou um símbolo de resistência e coragem.

5. Como a Passeata influenciou os movimentos de resistência anteriores e posteriores?

A passeata consolidou o movimento de resistência civil no Brasil, inspirando outros protestos e manifestações. Ela também ajudou a manter viva a esperança de retorno às liberdades democráticas. Sua simbologia permanece forte na memória coletiva.

6. A Passeata foi um evento isolado ou marcou o início de uma nova fase na resistência?

Embora tenha sido um momento marcante, a Passeata dos Cem Mil foi parte de um ciclo de resistência que ocorreu ao longo da ditadura. Ela representou uma virada na forma de manifestações, demonstrando a força da mobilização popular contra o regime autoritário.

Referências

  • Giovana Xavier. A Ditadura Militar no Brasil: Repressão e Resistência (1964-1985). Editora Fundação Perseu Abramo, 2010.
  • Gustavo Uribe. História das Resistências no Brasil. Editora Unesp, 2015.
  • Skidmore, Thomas E. Brasil: De Getúlio a Castelo. Paz e Terra, 1983.
  • Comissão Nacional da Verdade. Documentos sobre a repressão durante a ditadura militar. 2014.
  • Revista Veja. A memória da Passeata dos Cem Mil. Edição Especial, 2018.
  • História do Movimento Estudantil no Brasil, Instituto Ayrton Senna, 2020.

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