A redação acadêmica e profissional muitas vezes exige uma linguagem impessoal, clara e objetiva. A habilidade de impessoalizar textos é fundamental para transmitir informações de forma neutra, confiável e convincente, afastando-se de opiniões pessoais ou subjetividades. Nesse contexto, técnicas específicas de redação podem facilitar a elaboração de textos impessoais, garantindo maior credibilidade e formalidade às comunicações escritas. Como estudante ou profissional da área de redação, entender e aplicar tais técnicas é essencial para alcançar um nível elevado de qualidade no seu trabalho escrito. Neste artigo, explorarei as principais estratégias para impessoalizar sua linguagem de forma eficiente, abordando conceitos, exemplos práticos e recomendações que podem transformar sua escrita.
O que é a redação impessoal?
Antes de avançarmos para as técnicas, é importante entender o conceito de redação impessoal. Trata-se de um estilo de escrita onde o autor busca evitar a utilização de elementos que possam indicar uma opinião ou uma posição subjetiva. O objetivo é transmitir informações de forma neutra, centrando-se nos fatos, dados ou na lógica do argumento. Essa abordagem é muito utilizada em textos acadêmicos, relatórios técnicos, artigos científicos, legislações e documentos institucionais.
Segundo José Carlos de Azeredo (2007), a redação impessoal se caracteriza pelo uso de uma linguagem que não reflete a personalidade do autor, mas que privilegia a objetividade e a precisão. Assim, a impessoalidade pode ser alcançada por meio do uso de estruturas específicas, vocabulario técnico e uma sintaxe controlada, além do cuidado com o estilo.
Técnicas de redação para impessoalizar sua linguagem
Para garantir uma redação impessoal eficaz, é necessário aplicar um conjunto de técnicas que envolvem desde o uso adequado de estruturas até escolhas vocabulares precisas. A seguir, apresento as principais estratégias, explicando como e por que utilizá-las.
Uso de voz passiva
A voz passiva é uma das ferramentas mais tradicionais para impessoalizar textos. Ela desloca o foco do agente (quem realizou a ação) para o objeto ou para o fato em si, contribuindo para a neutralidade.
- Exemplo em voz ativa: "Os pesquisadores descobriram a nova teoria."
- Exemplo em voz passiva: "Foi descoberta a nova teoria pelos pesquisadores."
Vantagens:
- Reduz a subjetividade ao retirar o sujeito que realiza a ação.
- Prioriza o fato ou o resultado.
Dicas:
- Use também construções com o verbo 'ser' + particípio para evitar o uso constante da voz passiva: "A pesquisa é considerada inovadora."
- Evite excessos, pois textos excessivamente na voz passiva podem ficar difíceis de entender.
Uso de nomes abstratos e gerais
Substituir sujeitos específicos por termos genéricos ajuda a manter a impessoalidade.
- "A análise dos dados revela que..." é mais impessoal do que "Na análise que eu fiz, os dados mostram que...".
- Ao usar termos como "estudo", "pesquisa", "relatório", há maior neutralidade.
Evitar uso de pronomes pessoais
Pronomes como "eu", "nós", "você", ou "tu", direcionam o texto para uma postura subjetiva.
Dicas para evitar:
- Substitua "eu acho" por "é possível afirmar" ou "constata-se que".
- Use a terceira pessoa impessoal ou estruturas que não identifiquem o sujeito.
Uso de formas impersonais com verbos
Certos verbos e fórmulas ajudam a construir frases impessoais, tais como:
Estrutura/Verbo | Exemplo | Uso |
---|---|---|
Verbo na 3ª pessoa do singular + "se" | "Estuda-se o fenômeno com atenção." | Geral, sem sujeito definido |
Forma "há" + substantivo | "Há evidências concretas de sucesso." | Indica existência, impessoalidade |
Verbo na terceira pessoa com "é"* | "É importante considerar as variáveis." | Expressa generalidade, sem especificar quem realiza a ação |
Uso de linguagem técnica e formal
Evitar gírias, expressões coloquiais ou subjetivas garante maior impessoalidade.
- Opte por termos técnicos apropriados ao tema, mesmo que isso torne o texto mais formal.
- Assim, a credibilidade do texto aumenta e a linguagem fica mais neutra.
Utilização de conectivos e marcadores de neutralidade
Conectivos ajudam a estabelecer uma narrativa feita de fatos e análises, como:
- "De acordo com..."
- "Conforme demonstrado por..."
- "Foi constatado que..."
- "Os dados indicam que..."
Esses elementos reforçam a objetividade e a impessoalidade da argumentação.
Técnicas de evitar opiniões pessoais
Para manter a imparcialidade:
- Não utilize expressões de opinião como "Eu acredito"/"Na minha opinião"/"Penso que".
- Ao invés disso, apresente fatos, dados ou referências confiáveis.
- Use citações de especialistas, testes, números estatísticos e fontes reconhecidas.
Estruturação lógica e coerente
Uma redação impessoal deve seguir uma sequência lógica de ideias.
- Introdução clara do problema ou tema.
- Desenvolvimento baseado em fatos, dados e teoria.
- Conclusão com síntese neutra.
A coerência ajuda a manter o foco no conteúdo, evitando desvios subjetivos que possam comprometer a impessoalidade.
Exemplos práticos de redação impessoal
Para ilustrar a aplicação das técnicas, vamos analisar alguns exemplos comparativos:
Texto com linguagem subjetiva | Texto impessoal |
---|---|
"Na minha opinião, o método X é melhor." | "O método X apresenta maior eficiência." |
"Acreditamos que a solução seja válida." | "A solução demonstra validade com base nos dados." |
"Eu acho que os resultados sugerem uma tendência." | "Os resultados indicam uma tendência." |
Percebo que a segunda versão é mais neutra, objetiva e impessoal, adequada para textos acadêmicos.
Dicas finais para uma redação impessoal eficiente
- Leia textos acadêmicos ou científicos para entender a linguagem impessoal utilizada pela comunidade científica.
- Pratique reescrever textos subjetivos, transformando-os em versões neutras e formais.
- Use sempre o dicionário para optar pelos termos mais precisos e técnicos.
- Revise seu texto para eliminar expressões subjetivas e garantir o uso de construções impersonais.
- Peça feedback de professores ou colegas sobre a neutralidade de seu texto.
Conclusão
A impessoalidade na redação é uma técnica essencial para comunicar-se de forma clara, objetiva e confiável, especialmente em contextos acadêmicos, científicos e profissionais. Para atingir esse objetivo, é necessário dominar uma série de estratégias, como o uso adequado da voz passiva, linguagem técnica, estruturas impersonais, evitando pronomes pessoais e opiniões subjetivas. A prática constante e a leitura de textos especializados favorecem a aquisição dessas habilidades. Ao aplicar sistematicamente essas técnicas, posso aprimorar minha escrita, transmitindo informações de modo mais rico, credível e alinhado às exigências formais do universo acadêmico.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Por que é importante impessoalizar a linguagem na redação acadêmica?
Impessoalizar a linguagem confere maior credibilidade, objetividade e neutralidade ao texto, evitando que opiniões pessoais influenciem a apresentação dos fatos. Isso é fundamental para que os leitores confiem nas informações transmitidas e para que o texto esteja alinhado às normas acadêmicas e científicas.
2. Quais são os principais recursos para transformar uma frase subjetiva em impessoal?
Utilizar a voz passiva, construir frases com estruturas impersonais, substituir pronomes pessoais por nomes ou termos genéricos, e usar verbos na terceira pessoa do singular ou expressões como "há" e "é", são recursos essenciais para impessoalizar uma frase.
3. Como evitar a subjetividade ao citar fontes em textos acadêmicos?
Utilizando referências confiáveis e objetivas, apresentando dados, estatísticas ou opiniões de especialistas, e evitando opiniões pessoais ou comentários subjetivos. Sempre cite os autores e demonstre neutralidade na análise.
4. Quais erros comuns ao tentar impessoalizar a redação?
Excesso de voz passiva que torna o texto difícil de ler, uso inadequado de linguagem técnica de forma incorreta, confusão entre impessoalidade e formalidade excessiva, além de manter opiniões pessoais que comprometem a neutralidade.
5. Existe alguma situação em que a linguagem impessoal não deve ser usada?
Sim, em textos mais subjetivos, como relatos pessoais, textos argumentativos que envolvem opiniões pessoais ou testemunhais, o uso da linguagem impessoal pode não ser adequado. Nesses casos, a narrativa mais próxima do eu pode ser justificável.
6. Como praticar a técnica de impessoalização na redação diária?
Lendo regularmente textos acadêmicos e científicos, praticando reescritas de textos subjetivos para versões mais neutras, solicitando feedbacks e mantendo uma postura reflexiva sobre o uso de pronomes, estruturas e vocabulário.
Referências
- Azeredo, J. C. de. (2007). Redação Acadêmica e Científica. São Paulo: Contexto.
- Fávero, L. P. (2010). Redação acadêmica e científica: guia prático. Rio de Janeiro: Campus.
- Marcuschi, L. F. (2008). Elementos de análise de textos. São Paulo: Parábola Editorial.
- Lakatos, E. M., & Marconi, M. A. (2010). Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas.
- Moraes, R. V. de. (2009). Redação técnica e científica. São Paulo: EDITORA UNESP.