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Variola: História, Sintomas e Como Foi Erradicada Mundialmente

A varíola, uma das doenças mais devastadoras enfrentadas pela humanidade, trouxe sofrimento, morte e medo ao longo de séculos. Com sua ausência atualmente sendo motivo de comemoração mundial, ela representa um marco importante na história da medicina e da saúde pública. Neste artigo, viajarei pelo passado para explorar como a varíola afetou diferentes civilizações, os sintomas característicos da doença, as estratégias que levaram à sua erradicação e o impacto que tudo isso teve na sociedade. Nosso objetivo é entender não apenas a biologia da doença, mas também as ações humanas que culminaram na sua extinção global, uma conquista sem precedentes na história da medicina.

História da Variola

Origens e Disseminação

A varíola, causada pelo vírus Variola virus, é uma das doenças mais antigas conhecidas pela humanidade. Evidências fósseis indicam que a doença já afetava populações há cerca de 3.000 anos, embora registros escritos só comecem a surgir na Antiguidade.

Segundo documentos egípcios, há representações de manchas que muitos estudiosos interpretam como sinais de varíola, datando de aproximadamente 1.500 a.C. Em outras civilizações antigas, como na China, Índia e Grécia, também há registros que indicam a presença da doença, reforçando sua ampla disseminação.

A Disseminação pelo Mundo Antigo

Através das rotas comerciais e das conquistas, a varíola espalhou-se por todos os continentes. Os viajantes carregavam não só bens materiais, mas também vírus e bactérias que estimulavam a emergência de epidemias devastadoras. No século XVI, a doença já era uma ameaça constante às populações indígenas das Américas, contribuindo para a mortalidade em grande escala.

A Estigmatização e o Papel das Sociedades

A doença sempre foi temida por sua alta taxa de mortalidade e pelo aspecto desfiguratório que deixava nas pessoas infectadas. Em diversas culturas, ela foi considerada uma punição divina ou uma sina do destino, o que influenciava tanto as práticas religiosas quanto as estratégias de tratamento.

Desenvolvimento das Primeiras Estratégias de Prevenção

No século XVIII, surgiram as primeiras tentativas de prevenção, notadamente a variolação, uma prática que consistia na injeção de material de uma pessoa infectada em indivíduos sãos com o objetivo de induzir uma imunidade. Essa técnica, praticada na Ásia, África e Europa, era arriscada, mas resultava em redução significativa da mortalidade.

A Descoberta da Vacina

A verdadeira revolução ocorreu em 1796, quando Edward Jenner introduziu a vacinação com varíola bovina (Cowpox) como método preventivo. Seu experimento marcou o início da imunologia moderna e estabeleceu um padrão de eficácia que mais tarde culminou na erradicação mundial da doença.

Sintomas da Variola

Fases Clínicas da Doença

A varíola apresenta um curso clínico que evolui em várias fases distintas:

  1. Incubação (7-17 dias): Nesta fase, o vírus se replica no organismo, mas não há sinais ou sintomas visíveis.

  2. Fase Prodrômica (2-4 dias): O paciente apresenta febre moderada, mal-estar, dores de cabeça, dores no corpo e fadiga. Manchas vermelhas podem começar a surgir na boca e na garganta.

  3. Fase Cutânea e Manchamento (2-4 dias): Caracteriza-se pelo aparecimento de erupções cutâneas que evoluem rapidamente para pápulas (elevações), que se tornam vesículas, depois pústulas e, finalmente, crostas.

Características das Lesões

As lesões de varíola têm características específicas:

EstágioDescriçãoTempo Aproximado
PápulaElevação sólida e dolorosa1 dia
VesículaRegião cheia de líquido claro1 dia
PústulaCheia de pus, mais elevada2 dias
CrostaFormação de crosta ou casca4-14 dias

Sintomas Gerais e Complicações

Além das lesões na pele, os pacientes frequentemente apresentavam:

  • Febre alta
  • Dor de cabeça intensa
  • Dor muscular
  • Enjoo e vômito
  • Perda de apetite
  • Gangrena e cicatrizes após a cicatrização das lesões

Complicações graves poderiam incluir:

  • Hemorragias
  • Infecções secundárias
  • Envolvimento dos órgãos internos
  • Fígado e cérebro, levando à encefalite ou à cegueira

Diferença entre Variola Major e Variola Minor

Existem duas cepas do vírus:

  • Variola Major: Mais comum, mais grave, com uma taxa de mortalidade de até 30%
  • Variola Minor: Mais branda, com mortalidade inferior a 1%

Como Foi Erradicada Mundialmente

A História do Esforço de Erradicação

Após a introdução da vacina por Edward Jenner, o controle da doença começou a ser uma prioridade mundial. Na década de 1950, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma iniciativa global para erradicar a varíola, reconhecendo sua ameaça à saúde global.

Estratégias de Combate

As ações principais adotadas incluíram:

  • Vacinação em massa: Aplicada amplamente em populações de risco.
  • Detecção e contenção: Vigilância rigorosa de casos suspeitos, com isolamento de pacientes.
  • Resposta rápida: Equipes de saúde treinadas para atuar imediatamente após a confirmação de um caso.
  • Campanhas de educação: Incentivando a população a participar da vacinação.

O Papel da Vacina

A vacina contra a varíola, baseada no vírus Cowpox, mostrou-se altamente eficaz. A imunidade duradoura proporcionada por ela foi fundamental para interromper a transmissão do vírus.

A Declaração de Erradicação

Em 8 de maio de 1980, a OMS declarou oficialmente a erradicação da varíola, sendo o primeiro exemplo de erradicação de uma doença infecciosa na história da medicina moderna. Este feito foi resultado de décadas de esforços coordenados e colaboração internacional.

Causas do Sucesso

  • Alta taxa de imunidade: A vacina proporcionava imunidade duradoura.
  • Facilidade de diagnóstico: As lesões cutâneas eram características e facilmente reconhecidas.
  • Transmissão limitada: Apesar de altamente contagiosa, a varíola dependia de contato direto e pessoal para se disseminar.

Impacto da Erradicação

A erradicação da varíola trouxe inúmeros benefícios:

  • Salvar milhões de vidas humanas
  • Reduzir o medo e o estigma associados à doença
  • Economizar recursos de saúde pública
  • Demonstrar a eficácia da vacinação em campanhas globais

Ela também serve como um exemplo de sucesso na luta contra doenças infecciosas, impulsionando estratégias para outras doenças atualmente em foco, como a poliomielite e o sarampo.

Conclusão

A história da varíola é um testemunho do poder da ciência, da cooperação internacional e do compromisso humanitário. Desde suas origens remotas até sua erradicação, ela exemplifica como a ação coletiva pode superar desafios aparentemente insuperáveis. A vitória contra esse vírus não apenas salvou milhões de vidas, mas também moldou o manejo de doenças infecciosas no século XX, pavimentando o caminho para o avanço na medicina preventiva. Como sociedade, devemos valorizar e aprender com essa jornada para continuar lutando contra as ameaças atuais e futuras à nossa saúde.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. Como a varíola foi transmitida?

A varíola é transmitida principalmente por contato direto com as lesões de uma pessoa infectada, por gotículas respiratórias ao tossir ou espirrar, ou por contato com objetos contaminados, como roupas ou cobertores. Sua alta contagiosidade justifica a rapidez com que se espalhava em comunidades fechadas.

2. Por que a vacina contra a varíola foi tão eficaz?

A vacina desenvolvida por Edward Jenner utilizava o vírus Cowpox, que é semelhante ao Variola. Essa imunização proporcionava uma resposta imunológica duradoura e forte, prevenindo a infecção pela varíola de forma eficaz. Além disso, a facilidade de reconhecimento dos sinais clínicos facilitou campanhas de imunização em massa.

3. Há risco de a varíola retornar?

Atualmente, a varíola está erradicada e o vírus está presente apenas em laboratórios de alta segurança para fins de pesquisa. A possibilidade de retorno é mínima, mas há preocupações quanto ao uso do vírus como arma biológica. A comunidade internacional mantém vigilância estreita para prevenir qualquer risco de reintrodução.

4. Quais as diferenças entre varíola e outras doenças exantemáticas?

Embora várias doenças causem manchas na pele, a varíola apresenta lesões características, de tamanhos e fases distintas, além de um padrão de distribuição e evolução específicos. Doenças como catapora, sarampo ou rubéola têm diferenças notáveis em termos de padrão de erupção, sintomas associados e transmissão.

5. Como a erradicação da varíola influencia as campanhas atuais de vacinação?

A erradicação mostrou que a vacinação em campanhas massivas, combinada com vigilância contínua, pode eliminar doenças mesmo altamente contagiosas. Essa experiência motiva ações contra doenças como a pólio e o sarampo, destacando a importância da imunização preventiva.

6. Quais lições podemos aprender com a erradicação da varíola?

A principal lição é que o combate coordenado, baseado em ciência sólida, mobilização global e compromisso político, é capaz de vencer desafios de saúde pública. A erradicação demonstra que, com esforço coletivo, podemos eliminar ameaças que parecem intransponíveis, inspirando ações futuras para proteger a saúde mundial.

Referências

  • Fenner, F., Henderson, D. A., Arita, I., Jezek, Z., & Ladnyi, I. D. (1988). History of Smallpox and Its Spread. World Health Organization.
  • World Health Organization. (1980). Smallpox Eradication. Geneva: WHO.
  • Holland, J. (2000). The Eradication of Smallpox: An Overview. Journal of Infectious Diseases.
  • Plotkin, S. (2014). Vacinas: Princípios, Epidemiologia e Imunologia. Editora Atheneu.
  • Riedel, S. (2005). Edward Jenner and the history of smallpox and vaccination. Proceedings (Baylor University Medical Center).

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